Não ventava lá fora. Pela janela só se via uma rua quieta e deserta, salvo um ou outro gato que resolvia passear em busca de algo para o jantar. Sentada em sua cama, à luz de velas, esperava seu amante ficar pronto, ansiosa. Nua, sentiu que era hora de agir. Era sua noite, e seria uma noite única. Tensa, deitou-se lentamente e tomou-o como se fosse somente seu. E era. Como uma fracassada poderia ter o que mais desejava ao alcance das mãos? Deveria aproveitar seu privilégio, já que essas coisas acontecem uma vez na vida. Seus dedos tocavam a superfície lentamente, acariciando e admirando o que estava por vir. A noite estava silenciosa demais. Segurou-o com uma das mãos, e, após um suspiro, tocou-o com os lábios. O conteúdo frio e amargo desceu por sua garganta, rasgando cada fibra que encontrava pelo caminho. Brumas tomaram conta do aposento e o copo estilhaçou-se no chão, espalhando o veneno que ainda restava. Desacordada, sentiu-se flutuando, até que uma dor lancinante a trouxe de volta. Acordou no hospital, frustrada. Seu corpo rejeitara a substância. Nem esse prazer ela teria.
sexta-feira, 18 de julho de 2008
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Um comentário:
As vezes a felicidade se encontra no fundo de um copo...
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