quinta-feira, 30 de julho de 2009

The Path

A terra seca machucava seus pés desnudos, mas era o único caminho. Não sabia o destino daquela trilha, e já não se lembrava de onde vinha. Mas "sempre em frente", era o que diziam. Seus olhos mal conseguiam enxergar os metros adiante, posto que a sonolência o arrebatava. Era um cenário lúgubre, banhado pela luz da lua, que a tudo observava, em preto e branco. Mesmo as manchas recentes de sangue pareciam negras.

Uma leve brisa trazia consigo o aroma de carniça e morte, que já não o incomodavam mais. Não sentia fome, não sentia medo, não sentia repulsa. Tudo o que sentia era uma dor incessante no peito. Na busca pela origem da dor, percebeu que havia um punhal cravado fundo em seu peito. Não fazia idéia de como aquele objeto fora parar em sua carne, tudo o que sabia era que caminhava sempre em frente, sem parar, sem olhar para trás nem para os lados.

Precisava livrar-se daquilo. Respirou fundo e arrancou o punhal de si mesmo. A dor lancinante o derrubou de joelhos no chão, como que em prece para que a dor cessasse. Mas não cessava. A mancha escura do chão se tornava ainda maior, e suas mãos tentavam em vão estancar o que restava da substância dentro do corpo quase morto. Já não tinha forças para levantar e, consternado, deixou-se abater pela sensação inebriante de perder os sentidos vagarosamente.

Quando abriu os olhos, toda a escuridão se fora. O lugar onde se encontrava definitivamente não era o céu, mas era branco. Cheirava a álcool e era frio. Aos poucos sua percepção se tornava mais aguçada e pôde concluir que era um quarto de hospital. Lembrou-se de tudo, fracassara mais uma vez. Olhou para suas mãos, ainda manchadas com seu próprio sangue, mas os pulsos estavam enfaixados.

Seguiria em frente, obedeceria a ordem suprema. Era apenas uma questão de tempo, e estaria traçando o caminho novamente, manchando-o com seu sangue, vagando eternamente em busca de respostas que sabia que não existiam.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Sombra

A sombra deslizava pelas ruas. Sem rumo, sem nome, sem rosto. Entorpecida pela consciência de suas deformidades, tomava para si todas as vidas que encontrava por seu caminho como um buraco negro consumindo sua presa, sem deixar rastros de sangue para trás. O silêncio reinava, enquanto a cidade, adormecida, era embalada por sonhos e ilusões.