quarta-feira, 8 de abril de 2009

No ônibus...

É... Eu havia decidido não postar mais nada do meu cotidiano, mas serei obrigada a abrir uma exceção.

Estava eu a caminho do trabalho, sentada ao lado da janela do ônibus, quando um homem de 50 anos caminha em minha direção (a idade foi confirmada pelo próprio posteriormente). Havia dois assentos preferenciais vagos à minha frente, e o homem caminhava com a intenção de sentar-se em um deles – até olhar para mim. Percebi claramente a mudança de seu rumo, e se acomodou ao meu lado.

A minha jornada diária até o trabalho leva certo tempo, e como não consigo ler dentro de ônibus, carros, entre outros, dedico esse “tempo livre” para ouvir música e filosofar sobre a vida (na maioria das vezes eu durmo....). Pois bem... Estava eu filosofando quando o homem abre sua pasta, retira um bloco de notas e começa a rabiscar alguma coisa que minha educação e discrição não permitiram descobrir (eu nem estava interessada, para falar a verdade.). Eis que sou retirada bruscamente de meus devaneios com uma pergunta:
- Você sabe fazer aqueles pássaros que os japoneses fazem de papel, como é o nome?
- Origami – disse educadamente.
- Isso mesmo, você sabe fazer?
- Sei.

Essa foi a palavra errada, evidentemente. Ele me ofereceu uma folha, e fiz um tsuru. Ao terminar, perguntou-me o nome do pássaro e como se escrevia. Também me perguntou onde poderia aprender a fazer origami, o que não soou muito verdadeiro. Confesso que, por um momento, acreditei que o homem fosse um artista, que se utiliza dos pequenos detalhes para criar. *Engano n° 1*

Em sua folha ele havia desenhado diversos pássaros e escrito algumas frases. Destacou a folha do bloco e entregou-me. Quem sou eu para julgar as palavras de uma pessoa? Sinceramente, não me diziam nada além dos clichês utilizados em apresentações de Power Point, mas aceitei, educadamente. O problema foi quando ele escreveu seu telefone entre os pássaros. De artista para coroa com fetiche de orientais já era o cúmulo.
- Aqui está meu telefone. Se você souber de um lugar onde posso aprender a fazer esses origamis, me liga!
- Ah, ta. (Claro, vá sonhando!)

Eu apenas respondia suas frases como uma pessoa civilizada deve fazer, e voltava meu olhar para o mundo fora do meio de transporte que se movimentava. Não satisfeito, começou a falar que era casado, que possuía um casal de filhos, e que o menino estava com preguiça de ir ao colégio, bla bla bla... (Like I care!) Confesso que nesse momento achei que o homem era apenas um interessado em minha pessoa. *Engano n° 2*

Sem mais nem menos começou a falar que trabalhava com vendas, e me mostrou um folheto de um imóvel que ainda não foi construído aqui nas redondezas. Disse que a cada apartamento vendido, ele recebia 10% de comissão, e que se eu o ajudasse a vender, poderia receber uma comissão da comissão. Perguntou se eu conhecia jovens dispostos a trabalhar com a divulgação desse novo imóvel de fins de semana (vulgo pessoas que ficam nos semáforos entregando folhetos), e acrescentou que jovens japoneses como eu são responsáveis, carismáticos, ou seja, bons vendedores. Então percebi que o seu real interesse era me convencer a “trabalhar para ele”. Só pelo estilo de abordagem que ele utilizou, pude ver que falta bastante talento e bom senso. Talvez o desespero, a dificuldade financeira ou algum outro problema que desconheço sejam os catalizadores desse tipo de atitude meio “afobada” de abordar um desconhecido de forma totalmente inadequada.

Resumindo essa novela, confesso que meu mundo caiu. O mínimo de fé que eu tinha nos homens (homens = indivíduos) evaporou-se. No começo, quando ele me pediu o tsuru, quase recusei, mas achei que poderia dar uma chance a esse desconhecido. Normalmente não incentivo desconhecidos a adentrar meu espaço quando em um ambiente público, mas queria acreditar que era simplesmente uma pessoa em busca de inspiração. Pergunto-me se ainda existem essas pessoas, perdidas por aí. Acho errado julgar precipitadamente, então resolvi “pagar para ver”. A partir do momento em que ele deixou seu telefone e pediu para que eu ligasse, tudo o que senti foi um sentimento misto de raiva e frustração, pensando em como isso era previsível e eu sabia desde o começo. Ao mostrar-me o folheto, tentando convencer-me de que era um bom negócio vender apartamentos, me senti enganada. Teria sido “menos pior” se ele fosse direto ao ponto. Ou talvez a idéia de conseguir minha ajuda para melhorar seus negócios tenha surgido depois. Nunca saberei.

Nesse momento senti saudade da mulher que ao lado sentei outro dia, no ônibus, e que conversava sozinha (ou com alguém que eu não podia ver, vai saber). Era interessante e ao mesmo tempo não violava meu espaço e minha meditação diária.

2 comentários:

Andrew disse...

Oi Tie-chan =]

Que história hein?rs
Pra falar a verdade achei que ele tava interessado em sua pessoa mesmo e estava né? Nesse mundo encontramos diversos tipos de pessoas, sempre acreditamos que são boas e que podem fazer a diferença mas, nem todos são assim, usam a simpatia para outras coisas, para o seu bem próprio no fim das contas.

BJusss

Ps: Não para de escrever!Please! =)

Alberto K. disse...

Nossa, como faz tempo que não entro aqui. Eu também tinha achado que era um coroa com fetiche. :P

Quando vejo pessoas que conversam sozinhas (ou com alguém que não vejo), rapidamente lembro da caracterização delas pelo Manuel Bandeira (algo sobre a alegria dos loucos e dos bêbados...).